Ildefonso Correia
do Serro Azul, filho caçula do Barão, tinha seis anos quando o pai morreu, com quase
quarenta e nove anos. Tornou-se grande orador, poeta e membro da Academia de
Letras do Paraná. Era extrovertido e de picardia singular. Escreveu inspirados
versos sobre o sacrifício do Barão, notáveis pelo sentimentalismo, entre os
quais “Saudade” que, em parte, reproduzimos:
... Disseste à minha mãe esta frase eloquente:
“Pois bem, minha mulher, se alguma coisa eu valho, eu só quero valer para o meu Paraná!”
Que profunda saudade, que agonia! Por que foi, por que foi que mataram meu pai?
...
... Disseste à minha mãe esta frase eloquente:
“Pois bem, minha mulher, se alguma coisa eu valho, eu só quero valer para o meu Paraná!”
Que profunda saudade, que agonia! Por que foi, por que foi que mataram meu pai?
...
Não sobrou
tempo a Balbino
para prosseguir o
diário, nem para protestar quando,
aos gritos, o
acordaram, à boca
da noite. Ainda
mal desperto, ouviu o
major Gabriel de
Carvalho proceder à
chamada dos outros companheiros.
Pôde apenas desabafar
ao Barão:
— Não entendo.
Prometeram-nos o julgamento aqui em Curitiba. Vem agora
essa ordem de
embarque para o
Rio. E sem despedidas da família. Isto é outra violência sem nome!
Serro Azul vestiu o
capote. Arrumou, rápido, algumas
peças de roupa. Mandou avisar 'Nhô
Vica' pedindo providenciar dinheiro. Presciliano acomodou seus pertences numa
valise. José Joaquim Ferreira de Moura, enfebrado, mal podia levantar-se. Schleder
ajudou-o a vestir-se. Em menos de quinze
minutos os cinco
prisioneiros estavam em condições de partir. Perturbava-os uma certa
palpitação descompassada, uma
insegurança intuitiva, um
pressentimento sopitado à
luz de uma vaga esperança.
...
O relógio da catedral
repetia as batidas solitárias: nove horas. A cidade ainda não dormira,
entorpecida de pavor ou “ transida de medo”. Caía uma chuva fina, hibernal. A
escolta subiu, a pé a rua América, a atual rua Trajano Reis. Os prisioneiros se comunicavam,
silentes, pela expressão dos olhos, com certo ar de espanto. Tinha a marcha um
toque sinistro, misturado ao barulho das espadas resvalando na calçada, em
contraste com o silêncio tumular da noite.
Mesmo sob a agrura da
humilhação e do vexame, Serro Azul parece
tranqüilo, escudo e
rocha de um
grupo de homens
desorientados e perplexos. Vira-se
para Schleder, um pouco atrás, incentivando-o:
— Confiança, Jejé. Não
é a liberdade ainda. Mas, creia que tudo dará certo...
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SINOPSE
Inspirado neste livro, o produtor Maurício Appel levou para as telas dos cinemas, sob o título de “O Preço da Paz”, a tragédia do Barão do Serro Azul. Libelo contra a violência, a intolerância e a perfídia, o longa-metragem recompõe a imagem fascinante do Barão em meio ao tumulto das paixões que sacudiram aqueles tempos revolucionários. Premiado no Festival de Cinema de Gramado(RS) nas categorias Júri Popular, Produção de Arte e Montagem Técnica, o filme revelou para o Brasil os grandes avanços do Paraná nesse campo, tanto na qualidade técnica ou no primoroso roteiro, quanto na temática instigante e atraente. Serro Azul foi sempre uma figura singular. A desventura aumentou-lhe aquela auréola de encantamento e brilho, que tem causado impacto em sucessivas gerações. Mártir ou herói, tanto o livro, quanto o filme, permitem uma reflexão ou uma revisão sobre o papel que ele desempenhou nessa quase lendária história de pica-paus e maragatos. Então será possível entender as causas determinantes desse drama épico que lhe arrebatou a vida.
CURRÍCULO DO AUTOR
Túlio Vargas, natural de Piraí do Sul/PR, filho do deputado Rivadávia B. Vargas e Dalila R. Vargas, e bisneto do celére sertanista, político e revolucionário Telêmaco Borba. Bacharel em Direito. Deputado Estadual em 1962, reeleito na legislatura seguinte. Deputado Federal em 1970, igualmente reeleito, ocupou outros cargos relevantes: Secretário de Estado da Justiça, Presidente do BRDE, Procurador-Geral junto ao Tribunal de Contas do Estado do Paraná e Governador do Lions Internacional. Atualmente, preside a Academia Paranaense de Letras. É Cidadão Benemérito do Paraná.
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