Anthony Leahy- Se estivermos falando de cultura e história brasileira, infelizmente é muito pequeno. A não ser se for livros de pessoas famosas, mas quem aparece é a pessoa e não o conteúdo do livro. Muitos compram apenas por status… Não é a toa que sabemos mais da mitologia da idade média europeia, sabemos tudo do Halloween, e não sabemos nada das nossas próprias crendices e imaginário popular. Em vez de Cuca, temos Magos! Em vez Sacis, temos cíclopes! Assim, nossos jovens são incentivados a promover/consumir a cultura forânea e virar as costas para nossa própria identidade. Vendemos nossa alma e viramos zumbis obedientes. Retradicionalizamos tudo para atender a coerção do grande e descomprometido mercado. Quanto mais iguais e menos críticos, menos adaptações do processo produtivo para atender as diferenças regionais e até entre países. É a cultura de shopping: Em qualquer lugar do mundo, todo shopping é igual! E o pior é que cada vez mais os seus frequentadores também. Mesmas gírias, mesmos sutaques… pasteurização.
CC - E o interesse da população por esses temas mais regionais e históricos?
AL – Nenhum! Esta fora de moda ser regional. Por isto somos cada vez menos universais, pois cada vez entendemos menos da nossa própria aldeia. E se nós não nos valorizamos, quem valorizará? Quando falo de regionalismo não falo de abrir mão do mundo mas, antes, falar com ele de igual para igual. Se Globalizar é abrir mão do nosso desenvolvimento histórico-cultural e ficar macaqueando outras culturas, Então, desculpe-me, estou fora! Prefiro ser caipira.
CC - Qual é o perfil do leitor desta área?
AL -Geralmente acima de 50 anos, que ao notar-se envelhecendo sente necessidade de encontrar-se enquanto pertencente a um processo maior do que a própria vida dele. É a necessidade de continuidade. Afinal, somos a conexão entre o passado e o futuro. Somos o único animal que realiza conexão inter-temporal. Abrir mão disto é reduzir-se aos instintos igual aos outros animais. Costumo afirmar que não proponho viver de/no passado, mas que o passado faça parte do nosso futuro, posicionado-nos diante de nós mesmos. Somente assim poderemos nos respeitar e, consequentemente, respeitar aos outros.
CC- O que há de incentivo para a publicação de livros e o mercado para escritores?
AL -Pouco e sempre muito difícil acesso. Geralmente tem que ter QI (quem indicou). Mas acho que estamos começando a entender que Buenos Aires não pode ter mais livrarias do que o Brasil inteiro. E quando a sociedade entende, o governo apressa-se. Estamos até produzindo mais, porém perdemos muito em qualidade e proposta. O que interessa é apenas o sucesso comercial, então, como os fins justificam os meios… os diários de prostitutas valem mais do que os discursos de Rui Barbosa. É a vitória dos perdedores. O que vale é a performance comercial! Tanto faz se pornografia ou Machado de Assis. Vendeu? Então é bom. Não vendeu? Devolve! Escutei isto de um diretor de uma grande rede de livraria.
CC- Até que ponto o ritmo o acelerado de desenvolvimento tecnológico rompe com o conhecimento das raízes culturais?
AL -Tecnologia é meio e não fim! Caminho e não ponto de chegada. Acredito que facilita as pesquisas e a comunicação.
CC- As pessoas gastam com automóveis, casa, alimentação e não costumam priorizar a compra de livros. Embora tenha sido considerado uma grande invenção da história, pelo menos no Brasil não há o hábito da leitura. Como está essa relação entre o que é produzido e o que é lido no país?
AL -Para o brasileiro livro é caro! Infelizmente gastamos R$ 100,00 em um almoço ou barzinho, e achamos R$ 50,00 caro para um livro. Um livro lemos, relemos, emprestamos, … ou seja, diluindo o investimento pelo tempo de vida e a utilidade, entenderemos que livro é muito barato. E pode ficar mais barato, basta aumentarmos o mercado leitor para que viabilizar maiores tiragem e assim uma economia de escala. Comida, em 24 horas, já retornou à natureza… Nossas prioridades nos definem! Estamos virando porcos e os restaurantes de comida a quilo são os nossos chiqueiros… Comemos, bebemos, estamos obesos e burros! Estamos abrindo mão da chama divida que nos diferencia dos outros animais. Moral e ética são componentes culturais e precisam ser ensinados. Mas um povo que ler, é um povo que reivindica! E para quem é interessante promover um povo reivindicador? Consciente dos seus deveres e de seus direitos? Melhor é distribuir bolsas e cotas…
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