sexta-feira, 12 de abril de 2013

Revisando a história oficial: “Os imigrantes europeus exterminaram os povos indígenas. Não foi brincadeira. Desde o século 16, foram quatro ciclos de massacre aqui no Paraná. Por que ninguém estuda o assunto?” Milton Ivan Heller, jornalista e escritor

Os índios e os seus algozes
Milton Ivan Heller discute a importância dos povos indígenas no território paranaense na obra Os Índios e os Seus Algozes editado pelo Instituto Memória Editora & Projetos Culturais.
A obra, que contou com pesquisa formal de três anos, mas esteve no imaginário do autor por décadas, trata, de maneira geral, da matança dos povos indígenas.
“No que diz repeito à História do Brasil, o sistema educacional é falho. Escrevi este livro com a finalidade de discutir um assunto muito importante, que não costuma ser estudado”, afirma Heller, um jornalista, atualmente aposentado, que atuou nos jornais Diário do Paraná, Última Hora, Jornal do Brasil, entre outros veículos de comunicação.
Neste livro, Heller direciona o seu olhar para os índios de quase todo o Brasil, mas foca, com mais precisão, nos povos indígenas que habitaram o território parananese, entre os quais guaranis, caingangues, botocudos e xetás. “Houve uma matança geral desses índios, verdadeiras ações de extermínio”, diz o autor. Ele, inclusive, faz uma divisão da matança, no Paraná, em quatro ciclos.
De 1530, início da presença portuguesa no estado, a 1853, emancipação política do Paraná, ocorreu a primeira parte do extermínio. “Os portugueses estavam em conflito com os espanhóis, e ambos [portugueses e espanhóis] exterminaram os índios, além de levá-los acorrentados para vendê-los, como escravos, em São Paulo”, conta o jornalista e escritor.
O segundo ciclo, comenta Heller, seguiu do final do século 19 até meados do século 20, período que diz respeito à chegada de variados imigrantes europeus ao estado. “Os índios não gostavam de ser escravizados, eram rebeldes, portanto, precisavam ser eliminados. E, nesse segundo ciclo, já havia levas de europeus aqui para trabalhar”, explica.
Durante a primeira metade do século 20, quando ocorreu a ocupação de Guarapuava e Palmas, houve o terceiro ciclo de extermínio de índios.
E, em 1955, com o avanço da cafeicultura no norte do Paraná, é o momento do quarto, e último, ciclo de “caça ao índio” no estado. “Nesse período, foram exterminados os xetás”, afirma Heller.
Os homens sem alma
Se o jornalista não tem um nú­­mero preciso de quantos índios foram assassinados, apesar de muita pesquisa, ele coleciona outros dados que ajudam a entender quem foram, de modo geral, esses povos que viveram, desde muito tempo, no território paranaense. De guaranis a xetás, diz o autor, os indígenas eram polígamos. “Cada homem vivia com mais de uma esposa”, e as tribos tinham, em média, de 70 a cem pessoas.
Para justificar o ataque aos índios, diz Heller, os europeus valeram-se de diversos argumentos. “Os homens sem alma. Dizia-se isso sobre os índios. Também era comum afirmar que os índios não eram gente. E, não sendo gente, poderiam ser ‘abatidos’”, completa Heller.
O jornalista, conhecido pelo seu engajamento na resistência ao golpe militar, autor, entre outros, do livro Memórias de 1964 no Paraná (em parceria com Maria de Los Angeles G. Duarte), afirma que a sua obra mais recente é uma denúncia. “Contra uma chacina que ocorreu no Paraná”, diz.
Reprodução / “Os imigrantes europeus exterminaram os povos indígenas. Não foi brincadeira. Desde o século 16, foram quatro ciclos de massacre aqui no Paraná. Por que ninguém estuda o assunto?” Milton Ivan Heller, jornalista e escritor 
“Os imigrantes europeus exterminaram os povos indígenas. Não foi brincadeira. Desde o século 16, foram quatro ciclos de massacre aqui no Paraná. Por que ninguém estuda o assunto?” 
Milton Ivan Heller, jornalista e escritor

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GAZETA DO POVO - CADERNO G - Publicado em 26/04/2011 | MARCIO RENATO DOS SANTOS