sábado, 29 de setembro de 2012

ANTÓNIO MACHADO - poeta sevilhano


Caminante, son tus huellas
el camino, y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante, no hay camino,
sino estelas en la mar.
Caminhante, são teus rastos
o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se o caminho,
e ao olhar-se para trás
vê-se a senda que jamais
se há-de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho,
somente sulcos no mar.

O X DA QUESTÃO: QUAL O SOM DO X?


X, O LADRÃO DE SONS:

com som de s = texto 
x com som de ss = auxílio
x com som de z = exercício
x com som de cs = sexo 
com som de ch = xícara
x com som de x = paixão 

Sem som individual, formando dígrafo: exceção, excesso, exceto,...

CONHECES O POEMA SUJO? O cavalo azul teu...

A obra, escrita durante o Regime Militar que colocara no exílio grande parte da intelectualidade brasileira, foi inicialmente lida pelo autor na casa de Augusto Boal em Buenos Aires, no ano de 1975, a pedido do poeta Vinicius de Moraes - que gravou o recital e, a partir daí, promoveu uma série de recitais onde os versos eram ouvidos por plateias diversas. Essa divulgação antecedeu sua efetiva publicação em livro, que ocorreu em 1976, ainda durante o exílio do autor, pelo editor Ênnio Silveira.

ERÓTICO E PORNOGRÁFICO DRUMMOND!


Oh! Sejamos pornográficos
(docemente pornográficos).
Porque seremos mais castos
Que o nosso avô português?

Drummond rende-se a produção de poemas que vão do erótico ao pornográfico, passando pelo completo despudor; versos milvalentes onde ato sexual não eleva nem rebaixa, mas sim, aceita exultante a condição simples, o exposto cru, bastante cru, de ser humano. Animal sem meias palavras: ato, suor, lugar, sêmen, gemido, mamilos, modo. Uma pequena amostra dessas poéticas paixões carnais estão aqui nesta pequena seleção de cinco poemas de puro gozo retirados d´O Amor Natural.


Sugar e ser sugado pelo amor
Sugar e ser sugado pelo amor
no mesmo instante boca milvalente
o corpo dois em um o gozo pleno
Que não pertence a mim nem te pertence

um gozo de fusão difusa transfusão

o lamber o chupar o ser chupado

no mesmo espasmo

é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua.


A língua lambe

A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra

certo oculto botão, e vai tecendo

lépidas variações de leves ritmos.
E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,

e, quanto mais lambente, mais ativa,

atinge o céu do céu, entre gemidos,

entre gritos, balidos e rugidos

de leões na floresta, enfurecidos.


A castidade com que abria as coxas

A castidade com que abria as coxas
e reluzia a sua flora brava.

Na mansuetude das ovelhas mochas,

e tão estreita, como se alargava.
Ah, coito, coito, morte de tão vida,
sepultura na grama, sem dizeres.

Em minha ardente substância esvaída,

eu não era ninguém e era mil seres

em mim ressuscitados. Era Adão,

primeiro gesto nu ante a primeira
negritude de corpo feminino.

Roupa e tempo jaziam pelo chão.
E nem restava mais o mundo, à beira

dessa moita orvalhada, nem destino.


Mimosa boca errante

Mimosa boca errante
à superfície até achar o ponto

em que te apraz colher o fruto em fogo

que não será comido mas fruído

até se lhe esgotar o sumo cálido

e ele deixar-te, ou o deixares, flácido,

mas rorejando a baba de delícias

que fruto e boca se permitem, dádiva.
Boca mimosa e sábia,
impaciente de sugar e clausurar

inteiro, em ti, o talo rígido

mas varado de gozo ao confinar-se

no limitado espaço que ofereces

a seu volume e jato apaixonados
como podes tornar-te, assim aberta,
recurvo céu infindo e sepultura?
Mimosa boca e santa,
que devagar vais desfolhando a líquida
espuma do prazer em rito mudo,
lenta-lambente-lambilusamente
ligada à forma ereta qual se fossem
a boca o próprio fruto, e o fruto a boca,
oh chega, chega, chega de beber-me,
de matar-me, e, na morte, de viver-me.

Já sei a eternidade: é puro orgasmo.


Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça

Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
de magnificar meu membro.

Sem que eu esperasse, ficaste de joelhos

em posição devota.

O que passou não é passado morto.

Para sempre e um dia

o pênis recolhe a piedade osculante de tua boca.

Hoje não estás nem sei onde estarás,
na total impossibilidade de gesto ou comunicação.

Não te vejo não te escuto não te aperto

mas tua boca está presente, adorando.

Adorando.

Nunca pensei ter entre as coxas um deus.
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"O Amor Natural" não nasceu de um desvario momentâneo. O livro de poemas pornográficos, lançado em 1992, choque entre as mocinhas e senhores desavisado, expôs contornos radicais do poeta, mas o assunto já costumava aparecer em um ou outro poema, insinuadamente, fosse no embalo da união amorosa, fosse nos tons de poesia-piada, usuais no Modernismo (Era manhã de Setembro/ e/ ela me beijava o membro). Mas nesse há um desfile pelas páginas, uma galeria recheada de vulvas, línguas, falos, lambidas, pêlos.... O que mais houvesse para haver na cama entre homens e mulheres, está lá. Mas como? Aquele velhinho...?

Magnífico Drummond!

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.