SINOPSE
“Carta a Andorinha” foi o meu primeiro conto. A partir da singela história de uma árvore que sonha com a liberdade de uma andorinha, muitos romances surgiram. Porém o pequeno conto, por não ser muito extenso, jamais foi publicado. O mesmo posso dizer de “Zé Mané e a Estrelinha”, uma historinha infantil escrita durante a infância de minhas filhas, tentando transmitir algumas lições de bom procedimento diante da vida e do mundo. “Carta de Meu Pai” é um texto que sofri muito ao escrever, até hoje não consigo lê-lo sem chorar.
Este livro é uma coletânea de textos de minha autoria, escritos nos últimos vinte e cinco anos. Não estão em ordem cronológica, cada qual reflete minha visão de mundo no momento em que foi escrito. Angústias, frustrações, esperanças, dúvidas e certezas é o que procurei transmitir em cada um deles.
Quando lancei meu primeiro romance, “O Cristo da Periferia”, em 2006, muitos buscavam algo de autobiográfico nele. Hoje, depois de quatro romances, três antologias e várias participações em livros e eventos literários, quando meus leitores já entenderam que sou um ficcionista, sinto-me à vontade para publicar algo mais intimista, que revela um pouco de quem sou.
Agradeço ao meu editor, Anthony Leahy, que se tornou um grande amigo, por nunca desistir de mim, tornando-se meu confidente nas frustrações deste ingrato mundo da literatura.
Jocelino Freitas
Este livro é uma coletânea de textos de minha autoria, escritos nos últimos vinte e cinco anos. Não estão em ordem cronológica, cada qual reflete minha visão de mundo no momento em que foi escrito. Angústias, frustrações, esperanças, dúvidas e certezas é o que procurei transmitir em cada um deles.
Quando lancei meu primeiro romance, “O Cristo da Periferia”, em 2006, muitos buscavam algo de autobiográfico nele. Hoje, depois de quatro romances, três antologias e várias participações em livros e eventos literários, quando meus leitores já entenderam que sou um ficcionista, sinto-me à vontade para publicar algo mais intimista, que revela um pouco de quem sou.
Agradeço ao meu editor, Anthony Leahy, que se tornou um grande amigo, por nunca desistir de mim, tornando-se meu confidente nas frustrações deste ingrato mundo da literatura.
Jocelino Freitas
Susto
Já passava da meia-noite quando o editor Anthony Leahy parou de trabalhar. Sua atividade realmente tomava muito do seu tempo. Atender autores, transformar seus projetos em livros e, ainda, vender, não era tarefa fácil. Melhor teria sido permanecer em seu emprego de diretor numa grande editora, com as regalias que o cargo proporcionava. Mas o sonho falara mais alto e, agora, não podia se queixar de sua opção de vida. Tudo ia bem, mas sua vida de dono de editora pequena exigia muito trabalho.
Esses pensamentos lhe tomavam a mente enquanto descia do carro para fechar o portão. Precisava falar com o senhorio para colocar um motor naquele portão. Em pleno século XXI não se admite um portão que não se abra e feche com controle remoto. É mais que uma questão de conforto, é segurança. Mal pensou isso, sentiu uma mão em seu braço, um homem com roupas escuras o abordava. Seus reflexos de professor de capoeira reagiram instintivamente e o homem foi jogado ao chão sem dizer palavra. Anthony pulou sobre ele e o socou, só então percebendo que era um mendigo, implorando para que parasse. Queria apenas pedir uma moeda e levara uma surra. Era o preço por tocar num desconhecido, distraído, de dois metros de altura.
- Nunca mais me toque – disse o ainda irritado editor. - Se o encontrar passando por esta rua de novo, dou-lhe outra coça. - Não era um homem violento, mas o susto que lhe dera o mendigo fez com que seu sangue subisse à cabeça e a ameaça foi apenas um desabafo de quem ainda estava nervoso.
Muito tempo se passou e o caso já havia sido esquecido. Anthony saía da reunião do Instituto Histórico e Geográfico e conversava empolgadamente com um de seus colegas intelectuais. Eram muito bons aqueles encontros, nos quais podia conversar com os moradores mais antigos da cidade e ouvir histórias muito interessantes, aventuras do tempo em que eram crianças, vivendo numa capital com ar provinciano, bem diferente da metrópole em que se transformou.
Percebeu que alguém o olhava, uma dessas situações em que se sente a perturbação com o canto do olho, como se a presença da pessoa atraísse a sua atenção. Era o mendigo, paralisado, branco como um cadáver que, quando o editor olhou para ele, perguntou com um fio de voz:
- O senhor disse para não passar só naquela rua, ou nesta daqui também?
Esses pensamentos lhe tomavam a mente enquanto descia do carro para fechar o portão. Precisava falar com o senhorio para colocar um motor naquele portão. Em pleno século XXI não se admite um portão que não se abra e feche com controle remoto. É mais que uma questão de conforto, é segurança. Mal pensou isso, sentiu uma mão em seu braço, um homem com roupas escuras o abordava. Seus reflexos de professor de capoeira reagiram instintivamente e o homem foi jogado ao chão sem dizer palavra. Anthony pulou sobre ele e o socou, só então percebendo que era um mendigo, implorando para que parasse. Queria apenas pedir uma moeda e levara uma surra. Era o preço por tocar num desconhecido, distraído, de dois metros de altura.
- Nunca mais me toque – disse o ainda irritado editor. - Se o encontrar passando por esta rua de novo, dou-lhe outra coça. - Não era um homem violento, mas o susto que lhe dera o mendigo fez com que seu sangue subisse à cabeça e a ameaça foi apenas um desabafo de quem ainda estava nervoso.
Muito tempo se passou e o caso já havia sido esquecido. Anthony saía da reunião do Instituto Histórico e Geográfico e conversava empolgadamente com um de seus colegas intelectuais. Eram muito bons aqueles encontros, nos quais podia conversar com os moradores mais antigos da cidade e ouvir histórias muito interessantes, aventuras do tempo em que eram crianças, vivendo numa capital com ar provinciano, bem diferente da metrópole em que se transformou.
Percebeu que alguém o olhava, uma dessas situações em que se sente a perturbação com o canto do olho, como se a presença da pessoa atraísse a sua atenção. Era o mendigo, paralisado, branco como um cadáver que, quando o editor olhou para ele, perguntou com um fio de voz:
- O senhor disse para não passar só naquela rua, ou nesta daqui também?
Jocelino Freitas