Pela norma padrão da Língua Portuguesa, o feminino da palavra poeta é poetisa! Conforme as gramáticas de Bechara e de Cunha, e os dicionários Houaiss e Aurélio, a palavra Poeta é de gênero masculino que forma feminino ao acrescentar o sufixo nominal "isa".
Esta polêmica surge porque para alguns, atualmente, o substantivo poetisa tem um sentido pejorativo. Esta conotação surge para diferenciar mulheres que frequentam as ditas academias - mais sociais do que literárias - das mulheres realmente vocacionadas e de méritos literários.
Ou seja, como contestação à esta situação, os críticos e intelectuais adotam o vocábulo poeta como se fosse um comum de dois gêneros, ou seja, que tem uma só forma para os dois gêneros, sendo a distinção feita pelo artigo: a poeta - o poeta.
Alguns sitam o poema "Motivo" de Cecília Meireles como exemplo deste uso do vocábulo, mas esquecem de que em poemas existe o chamado "eu lírico" que não se submete ao gênero do escritor. Resta claro, pelo menos para mim, que o "eu lítico" no poema abaixo era masculino. Vejamos:
"Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta".
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta".
“Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.”
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.”
Cecília Meireles
Mulher que escreve poesias é poetisa. Não existe um vocábulo para as que escrevem boa poesia e outra para quem escreve poesias sem qualidade. Até porque a poesia é repleta de subjetividade e depende muito do contexto de quem a lê. O leitor é livre até na possibilidade de interpretação. Assim como não tem vocábulos para bons e más escritoras.
Como a língua é viva e dinâmica, não sou purista a ponto de não aceitar o termo "a poeta", mas minha opção é pela norma culta. O que não aceito é a crítica a quem utiliza o termo corretamente, subvertendo a gramática e invertendo os valores! Se as pessoas têm o direito de usar fora da norma, mais ainda tem quem a utiliza conforme a norma culta.
Porém, o que interessa mesmo é a beleza da poesia e o sentimento que ela inspira.