quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

91 ANOS DA SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922

"... seria uma semana de escândalos literários e artísticos, de meter os estribos na barriga da burguesiazinha paulista" - DI CAVALCANTI
Semana de Arte Moderna, também chamada de Semana de 22, ocorreu em São Paulo no ano de 1922 (ano do centenário da Independência brasileira), nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro, no Teatro Municipal da cidade. Cada dia foi dedicado a um aspecto cultural: pintura e escultura,poesia, literatura e música. Seu principal objetivo foi discutir a identidade nacional, compreender a cultura brasileira e os rumos das artes. É considerada o marco inicial do movimento modernista no Brasil. Houve vaias e críticas, especialmente dos defensores do academicismo.  O evento marca mudança de atitude dos artistas que de deixa de ser alienada da realidade social do pais e passa a criticar a alienação das camadas cultas/elites em relação à realidade do país. É a arte engajada. Representou uma verdadeira renovação de linguagem, na busca de experimentação, na liberdade criadora, na ruptura com o passado.
Participaram da Semana nomes consagrados do modernismo brasileiro, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Plínio Salgado, Anita Malfatti, Menotti Del Pichia, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos,Tácito de Almeida, Di Cavalcanti entre outros.
EFEMÉRIDES:
  • 13 de fevereiro (Segunda-feira) - Teatro Municipal de São Paulo - várias pinturas e esculturas provocam reações de espanto e repúdio por parte do público. O espetáculo tem início com a confusa conferência de Graça Aranha, intitulada "A emoção estética da Arte Moderna". 
  • 15 de fevereiro (Quarta-feira) - Enquanto Menotti Del Picchia expunha as linhas e objetivos do movimento e Mário de Andrade recitava sua "Paulicéia desvairada", inclusive a "Ode ao burguês", a vaia era generalizada. O mesmo aconteceu com Os sapos, de Manuel Bandeira, que criticava frontalmente o parnasianismo. Sob um coro de relinchos e miados, gente latindo como cachorro ou cantando como galo, Sérgio Milliet nem conseguiu falar. Oswald de Andrade debochou do fato, afirmando que, naquela ocasião, revelaram-se "algumas vocações de terra-nova e galinha d'angola muito aproveitáveis"... Ronald teve de declamar o poema pois Bandeira estava impedido de fazê-lo por causa de uma crise de tuberculose.
  • 17 de fevereiro (Sexta-feira) - apresentações musicais de Villa-Lobos, com participação de vários músicos. O público em número reduzido, portava-se com mais respeito, até que Villa-Lobos entra de casaca, mas com um pé calçado com um sapato, e outro com chinelo; o público interpreta a atitude como futurista e desrespeitosa e vaia o artista impiedosamente. Mais tarde, o maestro explicaria que não se tratava de modismo e, sim, de um calo inflamado…

OS SAPOS
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
'- Meu pai foi à guerra
- Não foi! - Foi! - Não foi!' O sapo-tanoeiro
Parnasiano aguado
Diz: - 'Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinqüenta anos
Que lhe dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma. Clame a sapataria
Em críticas céticas:
'Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas...'

Brada de um assomo
O sapo-tanoeiro:
'A grande arte é como 
Lavor de Joalheiro'

Urra o sapo-boi:
'- Meu pai foi rei - Foi!
- Não foi! - Foi! - não foi!'



Ode ao burguês

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel, 

o burguês-burguês! 

A digestão bem-feita de São Paulo! 

O homem-curva! o homem-nádegas! 
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, 
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas! 

Os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros! 

que vivem dentro de muros sem pulos; 

e gemem sangues de alguns mil-réis fracos 
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês 
e tocam os "Printemps" com as unhas!

Eu insulto o burguês-funesto! 

O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições! 

Fora os que algarismam os amanhãs! 

Olha a vida dos nossos setembros! 
Fará Sol? Choverá? Arlequinal! 
Mas à chuva dos rosais 
o èxtase fará sempre Sol!

Morte à gordura! 

Morte às adiposidades cerebrais! 

Morte ao burguês-mensal! 

ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi! 
Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano! 
"–Ai, filha, que te darei pelos teus anos? 
–Um colar... –Conto e quinhentos!!! 
Mas nós morremos de fome!"

Come! Come-te a ti mesmo, oh gelatina pasma! 

Oh! purée de batatas morais! 

Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas! 

Ódio aos temperamentos regulares! 
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia! 
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados! 
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos, 
sempiternamente as mesmices convencionais! 
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia! 
Dois a dois! Primeira posição! Marcha! 
Todos para a Central do meu rancor inebriante 
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio! 
Morte ao burguês de giolhos, 
cheirando religião e que não crê em Deus! 
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico! 
Ódio fundamento, sem perdão!

Fora! Fu! Fora o bom burguês!... 

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