Lembremo-nos que somos o único animal que tem consciência do seu existir e, portanto, possui consciência temporal e pode refletir e aprender com a sua história. Não estamos sob o imperativo dos instintos e não vivemos presos em um eterno agora existencial, sem ontem nem amanhã, que caracteriza os animais irracionais. Somos agentes do nosso próprio existir!
O ser humano é, e sempre será, o ponto de partida e a meta de todo compreender existencial. Nós é que criamos a escala de valores na qual enquadramos tudo o que nos rodeia, quer seja a arquitetura, quer seja o meio ambiente, quer seja a moral e os costumes. E esta escala de valores é que nos define enquanto indivíduo, povo, cidade, estado, nação... definindo a nossa forma de ser e ver o mundo, formando as nossas tradições.
Podemos constatar isto ao notarmos que existem vários povos que não têm territórios geograficamente definidos, mas possuem cultura e tradições consolidadas, representativas e coerentes com o seu passado e que representa sua identidade diante do mundo. É o exemplo do povo cigano: Um cigano é reconhecido e identificado em qualquer lugar do mundo, independente de sua origem imediata. O que faz um cigano são as suas atitudes e tradições!
Só o conhecimento da vida vivida e convivida pelos que vieram antes de nós é que permite criarmos vínculos emocionais (elos) que servem de referencial para a construção desta escala de valores que empresta significado aos ambientes externos enquanto cenário dinâmico do desenrolar da luta pela sobrevivência.
Somente a memória histórica constitui o fator (elo) de ligação/integração do homem com o local onde vive e desenvolve as suas atividades. Reconhecemos nessa memória o desenvolver da nossa própria atividade como conseqüência da realizada pelas gerações anteriores. Este nexo entre as gerações é o que define a nossa identidade, refletida nas nossas tradições. É o reflexo desta memória histórica que define o que cada um é e o que nos diferencia uns dos outros, quer seja em relação aos indivíduos, quer seja em relação aos povos.
Esta construção da identidade é um processo dinâmico, sem fim, sempre a fazer-se/refazer-se, baseado numa tensão constante entre tradição e modernidade. Mas devemos lembrar que o novo “oxigena” o antigo, adequando-o e convalidando-o como respostas às novas realidades e desafios. São complementares! Mas só o conhecimento da nossa história é o vínculo que nos permite inserir o novo de forma responsável e coerente.
Ou seja, para entendermos o presente e propormos o futuro, devemos decifrar o passado! Só o conhecimento liberta dos preconceitos, desfazendo nós centenários e nos libertando para a construção de um futuro mais digno e justo para todos, onde o referencial não seja a origem mas as ações e atitudes de cada indivíduo em relação à comunidade.
Não é o “Jus Sanguinis - Direito do Sangue” (origem étnica) nem o “Jus Solis - Direito do Solo” (local de nascimento), mas, acima de tudo, o “Jus moribus constitutum - Direito constituído pelos costumes”, ou seja, o Direito Cultural definido pelas nossas tradições, atitudes e comportamentos responsável pela formação do inconsciente coletivo definidor da nossa identidade enquanto povo, estado e nação.
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