EMÍLIO DE MENEZES - (1866-1918)
Emílio Nunes Correia de
Meneses nasceu em Curitiba, Paraná. Jornalista e poeta, foi eleito para a Academia
brasileira de Letras mas faleceu antes de tomar posse. Era filho do também
poeta Emílio Nunes Correia de Menezes e de Maria Emília Correia de
Menezes, único homem dentre oito irmãs. Muda-se para o
Rio de Janeiro, deixando em Curitiba a marca de uma conduta já destoante ao
formalismo vigente: nas roupas, no falar e nos costumes. Boêmio, na capital do país
encontra solo fértil para destilar sua fértil imaginação, satírica comparada a
Gregório de Mattos. Em 1914, teve seu nome aprovado para suceder Salvador
de Mendonça, na cadeira nº 20 da Academia Brasileira de Letras. Emílio escreveu
um discurso de posse, mas eram tantas as impropriedades, no entender da
Academia, que o poeta foi orientado a mudar palavras e conceitos, “aberrantes
às praxes acadêmicas”. Emílio protelou o quanto pode para fazer as emendas
sugeridas e faleceu, quatro nos depois de ter sido eleito, sem ter tomado posse
de sua cadeira.
Tornou-se jornalista no RJ
e, por intercessão do escritor Nestor Vítor, trabalha com o
Comendador Coruja, afamado educador. Em 1888 casa-se com uma filha
deste, Maria Carlota Coruja, em 1888, com quem tem no ano seguinte seu
filho, Plauto Sebastião. Neste mesmo ano separa-se da esposa, mantendo um
romance com Rafaelina de Barros. Obras
publicadas: Marcha fúnebre - sonetos – 1892; Poemas
da morte -1901; Dies irae - A tragédia de Aquidabã –
1906; Poesias – 1909; Últimas rimas – 1917; Mortalha -
Os deuses em ceroulas - reunião de artigos, org. Mendes Fradique –
1924; Obras reunidas– 1980.
EMÍLIO DE
MENEZES ABORDA TEMA ATUALÍSSIMO:
Sem ter ofício
certo, o nosso papa
Matuta agora em que passar
o dia.
Da prisão que o envolve
não se escapa
E, de Veneza, sofre a
nostalgia.
Do mundo crente dominando
o mapa
E, exercendo a maior
soberania,
Vê, entretanto, que o
mundo se lhe escapa
E, não conhece o que
dirige e guia.
Para se distrair, o
prisioneiro,
Os dias santos, impiedoso,
corta
Mas um concede ao
celestial porteiro!
E não fizesse que, de cara
torta,.
Quando soltasse o alento
derradeiro,
São Pedro, à face, lhe
trancava a porta !
NO ANEDOTÁRIO
EMÍLIO ERA IMBATÍVEL E INCORRIGÍVEL:
Em um de seus prediletos pontos de observação – a mesa de
um bar – Emílio bebia com amigos quando vê passar uma pessoa com fama de
conquistador, de nome Penha. Os amigos comentaram que Penha estava, no momento,
sofrendo de males de amor não correspondido por uma mulher de duvidosa
reputação. O poeta saiu-se com esta:
— Um homem que se diz Penha sofrendo por uma mulher que
se disputa…
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Manhã de sexta-feira santa. As famílias de Curitiba saem
das missas de rememoração da morte de Cristo. Algumas passam pela Praça Osório
e encontram Emílio embriagado, amparando-se em uma das palmeiras do logradouro.
Imediatamente reconhecido, vão até ele e o censuram.
— Sr. Emílio, mas nem o dia de hoje, em que todos se
recolhem para lembrar a morte de Nosso Senhor, você respeita?
Nem sua visível embriaguez não o impede de uma tirada
inteligente:
— Não foi no dia de hoje que se cometeu o maior crime da
humanidade, em que mataram o Filho de Deus feito homem?
— Foi, é claro!… — responderam os piedosos conhecidos. E
ele completou:
— Pois quando a divindade sucumbe, a humanidade cambaleia…
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Postado em um banco de lotação, Emílio vê uma senhora
bastante obesa a tentar acomodar sua massa corporal no banco de madeira. Mas o
assento não suporta o peso e cede, para susto da untuosa dama. Emilio não
demora a fazer sua observação:
— É a primeira vez que vejo um banco quebrar por excesso
de fundos…
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Perguntado se
sabia qual a parte mais bonita do corpo da mulher, respondeu imediatamente: —
Sei-o!
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Ainda estudante, Emílio se aborrecia com os
discursos certo Professor Saboya, na sala de aula. Percebendo seu desinteresse,
o mestre lhe pergunta:
— Senhor Emílio, defina a Sabedoria!
Resposta rápida:
— A sabedoria, professor, é algo que tem
efetivamente muito peso… se colocada n’água, ela afunda.
— E a ignorância, então?
— A ignorância? Ora, essa bóia!
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Certa vez, ao tomar o trem em São Paulo para voltar ao Rio de Janeiro,
um amigo literato levou-o a estação e na despedida disse a Emílio: Adeus, insigne partinte. Ao que o poeta respondeu: Adeus, insigne ficante.
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