sábado, 16 de fevereiro de 2013

O GREGÓRIO DE MATTOS CURITIBANO QUE ADOTOU O RIO DE JANEIRO

EMÍLIO DE MENEZES - (1866-1918)
  
Emílio Nunes Correia de Meneses nasceu em Curitiba, Paraná. Jornalista e poeta, foi eleito para a Academia brasileira de Letras mas faleceu antes de tomar posse. Era filho do também poeta Emílio Nunes Correia de Menezes e de Maria Emília Correia de Menezes, único homem dentre oito irmãs. Muda-se para o Rio de Janeiro, deixando em Curitiba a marca de uma conduta já destoante ao formalismo vigente: nas roupas, no falar e nos costumes. Boêmio, na capital do país encontra solo fértil para destilar sua fértil imaginação, satírica comparada a Gregório de Mattos. Em 1914, teve seu nome aprovado para suceder Salvador de Mendonça, na cadeira nº 20 da Academia Brasileira de Letras. Emílio escreveu um discurso de posse, mas eram tantas as impropriedades, no entender da Academia, que o poeta foi orientado a mudar palavras e conceitos, “aberrantes às praxes acadêmicas”. Emílio protelou o quanto pode para fazer as emendas sugeridas e faleceu, quatro nos depois de ter sido eleito, sem ter tomado posse de sua cadeira.
Tornou-se jornalista no RJ e, por intercessão do escritor Nestor Vítor, trabalha com o Comendador Coruja, afamado educador. Em 1888 casa-se com uma filha deste, Maria Carlota Coruja, em 1888, com quem tem no ano seguinte seu filho, Plauto Sebastião. Neste mesmo ano separa-se da esposa, mantendo um romance com Rafaelina de Barros. Obras publicadas: Marcha fúnebre - sonetos – 1892; Poemas da morte -1901; Dies irae - A tragédia de Aquidabã – 1906; Poesias – 1909; Últimas rimas – 1917; Mortalha - Os deuses em ceroulas - reunião de artigos, org. Mendes Fradique – 1924; Obras reunidas– 1980.

EMÍLIO DE MENEZES ABORDA TEMA ATUALÍSSIMO:

Sem ter ofício certo, o nosso papa
Matuta agora em que passar o dia.
Da prisão que o envolve não se escapa
E, de Veneza, sofre a nostalgia.

Do mundo crente dominando o mapa
E, exercendo a maior soberania,
Vê, entretanto, que o mundo se lhe escapa
E, não conhece o que dirige e guia.

Para se distrair, o prisioneiro,
Os dias santos, impiedoso, corta
Mas um concede ao celestial porteiro!

E não fizesse que, de cara torta,.
Quando soltasse o alento derradeiro,
São Pedro, à face, lhe trancava a porta !

NO ANEDOTÁRIO EMÍLIO ERA IMBATÍVEL E INCORRIGÍVEL:

Em um de seus prediletos pontos de observação – a mesa de um bar – Emílio bebia com amigos quando vê passar uma pessoa com fama de conquistador, de nome Penha. Os amigos comentaram que Penha estava, no momento, sofrendo de males de amor não correspondido por uma mulher de duvidosa reputação. O poeta saiu-se com esta:
— Um homem que se diz Penha sofrendo por uma mulher que se disputa…
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Manhã de sexta-feira santa. As famílias de Curitiba saem das missas de rememoração da morte de Cristo. Algumas passam pela Praça Osório e encontram Emílio embriagado, amparando-se em uma das palmeiras do logradouro. Imediatamente reconhecido, vão até ele e o censuram.
— Sr. Emílio, mas nem o dia de hoje, em que todos se recolhem para lembrar a morte de Nosso Senhor, você respeita?
Nem sua visível embriaguez não o impede de uma tirada inteligente:
— Não foi no dia de hoje que se cometeu o maior crime da humanidade, em que mataram o Filho de Deus feito homem?
— Foi, é claro!… — responderam os piedosos conhecidos. E ele completou:
— Pois quando a divindade sucumbe, a humanidade cambaleia…
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Postado em um banco de lotação, Emílio vê uma senhora bastante obesa a tentar acomodar sua massa corporal no banco de madeira. Mas o assento não suporta o peso e cede, para susto da untuosa dama. Emilio não demora a fazer sua observação:
— É a primeira vez que vejo um banco quebrar por excesso de fundos…
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Perguntado  se sabia qual a parte mais bonita do corpo da mulher, respondeu imediatamente: — Sei-o!
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Ainda estudante, Emílio se aborrecia com os discursos certo Professor Saboya, na sala de aula. Percebendo seu desinteresse, o mestre lhe pergunta:
— Senhor Emílio, defina a Sabedoria!
Resposta rápida:
— A sabedoria, professor, é algo que tem efetivamente muito peso… se colocada n’água, ela afunda.
— E a ignorância, então?
— A ignorância? Ora, essa bóia!

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Certa vez, ao tomar o trem em São Paulo para voltar ao Rio de Janeiro, um amigo literato levou-o a estação e na despedida disse a Emílio: Adeus, insigne partinte. Ao que o poeta respondeu: Adeus, insigne ficante.

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