sexta-feira, 19 de abril de 2013

VALMOR WEISS: O prisioneiro da cela 310

Alegre, sorridente e afável, como sempre. Valmor Weiss estaciona o carro na Avenida João Gualberto, atravessa a pista do expresso e vai à panificadora Italipan, do amigo Márcio. Cumpre uma rotina: comprar pão para levar para casa. Um cidadão comum, para quem não conhece a sua história. Da época da ditadura e a mais recente, a do empresário.

Aquele homem de pequena estatura, aparência frágil, é uma fortaleza. Carrega uma história com episódios que poderiam tê-lo arrasado, em todos os sentidos. Mas, não, continua o mesmo Valmor Weiss, o sargento expulso do Exército, o jornalista da Última Hora, o prisioneiro da cela 310. 

Parte da história do Valmorzinho, como é chamado pelos ex-companheiros de luta e amigos, está contada no livro “O Prisioneiro da Cela 310”, a ser lançado em breve pelo Instituto Memória – Editora&Projetos Culturais, de Curitiba. 
Resgate da história
“O Prisioneiro da Cela 310”, escrito pelo jornalista Milton Ivan Heller, conta a história desse catarinense de Rio do Sul, onde nasceu a 8 de outubro de 1937, que enfrentou perseguição em dose dupla com o golpe civil-militar de 64. 

Afinal, além de trabalhar como jornalista da Última Hora/Paraná, era sargento do Exército. E assinava na UH a coluna Plantão Militar, que também existia nas demais edições da rede de jornais de Samuel Wainer.

Milton Ivan Heller relata que a intenção do sargento Weiss era divulgar as atividades da Associação dos Subtenentes e Sargentos do Exército, da qual acabaria sendo eleito vice-presidente.

Em 1964, o general Ernesto Geisel comandava a 5.ª Região Militar, em Curitiba. Walmor foi preso como “subversivo” logo após o golpe, acusado de insuflar a indisciplina nas Forças Armadas.
Após tortura e ameaças de fuzilamento, depois de 16 meses de prisão incomunicável foi libertado por decisão do Tribunal Superior Militar (STM). 

Weiss, que viraria preso político da cela 310 no Presídio do Ahú, em Curitiba, recorda que eram tempos de radicalização, de ódios exacerbados e de violência por todos os lados.
- Adversários eram inimigos que deveriam ser exterminados e a UDN batia à porta dos quartéis em busca de apoio para derrubar o governo.
O sargento e o general, frente a frente
Natureza Morta teve acesso aos originais do livro, numa cortesia de Valmor e do Milton Ivan. Vai daí que revela como foi o encontro do então sargento com o general então ainda não presidente.
No QG da 5.ª Região, hoje Solar do Barão, Valmor defrontou-se com o general Ernesto Geisel.

- Sabemos da sua participação no movimento dos sargentos e o senhor está conturbando o ambiente dentro do Exército.
- General, eu sempre tive orgulho de ser militar e participamos de reuniões para evitar que outros queiram deturpar o movimento, que é legítimo.
Não adiantou. Valmor pegou cadeia por quebra da disciplina e participação em reuniões políticas e subversivas. E, ao ser dispensado, recebeu a advertência:
- Você não perde por esperar.

Não deu outra.

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