SINOPSE
O livro Iconografia de Euclides da Cunha, organizado pelo pesquisador Felipe Pereira Rissato, é um retrato impressionante do itinerário biográfico do autor de Os sertões. Essa reunião de fotografias é o resultado de um trabalho minucioso, de cerca de uma década, em que se focaliza Euclides em diferentes momentos de sua vida, completado com uma sequência de imagens de seus familiares.
O principal aspecto a destacar é que o acervo fotográfico conhecido até então de Euclides em vida não chegava a trinta imagens. Agora Felipe Rissato nos apresenta um total de quarenta e seis, quantidade expressiva quando se sabe que a preservação de retratos, naquela época, era muito precária.
As fotos, como documentos de representação social, falam por si mesmas. Exemplo disso é a primeira que abre o livro, em que aparece Euclides em torno de dez anos com olhar penetrante, postura incisiva pronta para enfrentar o mundo. Essa visão sofreu mutações ao longo dos bons e maus momentos da sua vida pública e privada. As fotos que mostram o escritor entre os vinte e vinte e cinco anos revelam o olhar melancólico de um homem de feitio político determinado, que propõe o fim do Império e o estabelecimento da República.
A seguir aparecem as fotos da fase consagradora de Euclides quando da publicação de Os sertões. É o momento em que a iconografia serve para canonizar o autor que acabara de publicar a Bíblia da nossa nacionalidade. A foto mais conhecida desse momento é Euclides vestido de terno de risca-de-giz, imponente, de braços cruzados, mirando o infinito, sentindo-se, no dizer de Gilberto Freire, “o poeta, o profeta, o artista cheio de intuições geniais.”
Esse percurso visual de Euclides da Cunha modifica-se grandemente depois que assume a chefia da Comissão Brasileira de Reconhecimento do Alto Purús. Em todas as fotos tiradas na Amazônia, Euclides está sempre de perfil: em pé com membros da Comissão, sentado com eles entre pedras, no estúdio posando para George Huebner, descobre-se sempre o mesmo olhar que se transmuda melancólico. Contudo, a melancolia não o abateu na “terra sem história”, a selva. Os versos de “Se acaso uma alma se fotografasse”, soneto escrito em fotografias feitas em Manaus, revelam seu espírito satírico, cujas quatro versões têm o mesmo verso como chave de ouro: “O mais triste, o mais pálido e o mais feio...”, a confirmar sua trajetória agônica.
A última série de fotos traz Euclides com as maçãs do rosto salientes, um vasto bigode, um olhar duro, entristecido, como se o aguardasse a hora fatal de acertar as contas com o destino.
O levantamento fotográfico que mapeia o universo euclidiano, realizado por Felipe Pereira Rissato, faz da Iconografia de Euclides da Cunha obra de consulta obrigatória, em que o testemunho documental revela pela imagem algo de íntimo do homem que trouxe um novo modo de se olhar o Brasil.
PAULO ROBERTO PEREIRA
Organizou, em 2009, a convite da Editora Nova Aguilar,
a edição do centenário da obra completa de Euclides da Cunha
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Bancário de carreira, publicitário de formação e pesquisador por predileção, Felipe Pereira Rissato tem no currículo a descoberta de cartas, poesias e artigos de Euclides da Cunha desconhecidos do público e inéditos em livro até 2009, quando então foram reunidos na terceira edição da Obra Completa do escritor. Algumas destas cartas inéditas em qualquer meio!
Dentre os artigos por ele encontrados, está o único datado de 1893 até hoje conhecido e nunca referenciado em bibliografias. Intitulado “Atos e Palavras”, trata-se de uma carta aberta ao jornal O Estado de S. Paulo, sendo o suspiro derradeiro da série de oito artigos escritos por Euclides em 1889, publicados quando o jornal ainda se chamava A Província de São Paulo.
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