SINOPSE
“... Sempre tive vontade de conhecer algo diferente e quando surgiu a oportunidade de vir para Curitiba, não tive nenhuma dúvida. Cheguei do interior perdido, pois nunca tinha visitado uma cidade grande, nem imagina como poderia ser. Mas as coisas deram muito certo, e não tenho mais vontade de sair desta cidade, pois aqui consegui Ter e ser o que hoje sou. E se as coisas deram certo foi principalmente graças ao apoio que recebi dos meus tios e primas. Eles sabem que lhes devo muito. Morava e trabalhava com eles. Recebia do bom e do melhor, me davam de tudo, até os estudos, que tinha abandonado, me fizeram retomar. Minha vida deu uma guinada e tanto!
Mas quando um pássaro cria asas, ele quer alçar voo cada vez mais alto. Novamente quis tentar algo diferente, saí da companhia dos meus tios e fui trabalhar com táxi. Então, as coisas tomaram outro rumo. Conheci um mundo novo, as mais diferentes pessoas, em situações tristes, estranhas ou engraçadas. Fui anotando tudo e a partir de agora vou abrir as portas da minha vida e contar um pouco do que já passei... É claro que todos os personagens têm nomes fictícios e qualquer semelhança não passa de mera coincidência. Dito isso, vamos viver juntos estas histórias!”
ENTREVISTA GAZETA DO POVO
Texto originalmente publicado na versão impressa da Gazeta do Povo de domingo (23/08/09).
Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
Se duvidar, você já é protagonista de uma das 40 crônicas do livro Se meu táxi falasse..., do taxista Eloir José Golemba.
O passageiro que entra no táxi de Eloir José Golemba, 27 anos, fica admirado. Banco de couro, doces e balas à vontade. Revistas, três televisões com transmissão digital e cerca de 150 títulos de DVD. Por mais longa que seja a corrida, não há como se entediar com tantas opções. Mas os mimos e recursos tecnológicos são fichinhas diante da principal atração que o taxista guarda para os passageiros se entreterem: as 40 crônicas que reuniu no livro Se meu táxi falasse...
De tanto ouvir histórias dos passageiros e de passar por situações inusitadas em oito anos de praça, Eloir decidiu raspar o tacho na conta bancária e investir todas as economias na primeira edição do livro, lançada em março. Em quatro meses, os 2 mil exemplares já estavam vendidos, o dinheiro recuperado com lucro e ainda surgiu a oportunidade de reeditá-lo pela Editora Juruá – dessa vez sem precisar tirar dinheiro do próprio bolso. “Oitenta por cento da primeira edição vendi dentro do táxi. A coisa tomou uma proporção que tinha gente que lia o livro, reconhecia que a história era sua e ligava para mim ou para a central pedindo mais exemplares para dar de presente, só para mostrar para a família e os amigos que estava no livro”, relata Eloir. Com resultado tão positivo, o taxista se empolgou de vez.
Próximo
Das anotações à mão – foram 15 cadernos nas 40 crônicas de Se Meu Táxi Falasse... –, o taxista digita agora as histórias do próximo livro direto no notebook que adquiriu e aprendeu a mexer sozinho, sem nunca ter contato com computador antes. Basta uma paradinha no ponto à espera do próximo cliente e lá está Eloir tamborilando o teclado na próxima crônica. “Já tenho mais 40 escritas e outras 60 no esboço”, relata.
E matéria-prima não falta. Nas 15 horas de trabalho diário, Eloir faz em média 25 corridas, totalizando aproximadamente 50 passageiros. Por mês, são em torno de 1,5 mil pessoas que passam pelo Chevrolet laranja modelo Zafira. Por ano, cerca de 18 mil. Com um fluxo desses, se quiser, o taxista seguramente terá histórias para preencher páginas em branco até se aposentar. “Agora tem gente que já entra no táxi e vai logo me contando uma história. Termina e me pergunta: ‘E aí, essa vai para o livro?’”, conta, rindo, o taxista, que já ficou conhecido em Curitiba e que nos próximos meses deve ser um dos entrevistados do Programa do Jô, da Rede Globo.
Uma das histórias que já está pronta para o próximo livro é de um passageiro, por assim dizer, reincidente. No livro a ser lançado quarta-feira, Eloir conta (sem revelar o verdadeiro nome do protagonista, assim como de todas as outras pessoas que estão nos textos) a história de um rapaz que quase rompeu com o melhor amigo desconfiado de que ele estivesse de caso com sua noiva. Ao perceber que tanto a moça quanto o amigo mudavam de comportamento quando estavam na presença um do outro, o rapaz decidiu tirar satisfação. Perguntou ao amigo se ele o estava traindo com sua companheira. O que foi desmentido com uma revelação que levou ao término definitivo do relacionamento: a noiva era garota de programa.
Esse ano o taxista voltou a atender o mesmo passageiro, que contou mais uma vez a história sem se dar conta de que o taxista já a conhecia muito bem. Receoso, Eloir ofereceu o livro a ele, sem dizer que justamente aquele relato era uma das crônicas impressas. O passageiro comprou e dias depois ligou para Eloir. “Puxa vida, rapaz, agora estou mais tranquilo. Lendo o livro, descobri que aquela história que te contei também acontece com os outros. Pensei que isso só tivesse acontecido comigo. Obrigado!”, agradeceu o sujeito, sem nem desconfiar de que acabara de se tornar pela segunda vez personagem de uma crônica do taxista. Porque com Eloir é assim. Quando o passageiro menos espera, vira personagem de crônica – se é que já não está em uma das 40 do primeiro livro.
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